sábado, 30 de agosto de 2008

TEXTO CRÍTICO 1 - O AMPLO SENTIDO DA ESCRAVIDÃO

Você pensa que ela está abolida? Não, ela esbanja vida como nunca...

Na última sexta-feira, dia 08 de agosto, alguns alunos do grupo se reuniram para ir ao Museu Júlio de Castilhos recolher dados e informações sobre a vinda da Família Real para o Brasil. A exposição, apesar de ser bastante sintetizada, aborda questões muito interessantes. A que mais me sensibilizou foi certamente a da escravidão no período. Lá havia inclusive expostos os instrumentos originais de tortura utilizados contra os negros africanos. Quando ficamos face-a-face a gargalheiras, vira-mundos e outros aparelhos de tortura, a angústia que nos toma é enorme, e ao mesmo tempo estúpida, pois estamos nós, como entidade HOMEM, na condição de torturador e de torturado, ou mais amplamente, de superior e de subjugado.

HOMEM. O ser vivo mais versátil do planeta. As suas possibilidades são infinitamente numerosas, devido à sua essência caracterizada pela capacidade de escolher. O homem escolhe desde o momento primeiro da sua vida. Ele pode escolher estudar para ter um futuro melhor, ou inutilizar seu tempo escolar fazendo uso de drogas pesadas. Ele pode escolher entre aceitar a moral da corrupção ou não ser corrupto - ou ainda lutar contra a fraude no âmbito público. Ele pode escolher entre incitar e cegar a população a realizar grandes guerras ou lutar pelo acordo, pela paz. Ele pode escolher entre enfrentar de cabeça erguida as tropas de Junot, ou abandonar seu povo à desgraça e escapar, egoísta no seu mundinho não tão particular assim. Como disse Jean-Paul Sartre, filósofo contemporâneo, o homem está condenado a ser livre. Eis aí a escravidão humana.

Utilizar engenhos contra gente que como qualquer outra, é feita de carne e osso – negros africanos-, para não interromper o ciclo de lucratividade, foi uma escolha que gerou frutos pouco perenes para Portugal. Maior potência marítima européia no século XV, Portugal em 1808 não tinha mais que trinta embarcações obsoletas – entre fragatas e naus. Dívidas imensas foram acumuladas, especialmente com a Inglaterra, tropas de Napoleão invadindo o território luso: a decadência do mesmo povo que um dia fora cantado e exaltado nos versos de Camões. Não foram capazes de perceber que enquanto escravizavam o povo africano e mantinham uma colônia de injustiças em péssimas condições urbanas ou rurais, seguindo princípios mercantilistas inescrupulosos, se tornaram vítimas de uma escravidão escolhida. A superioridade era tanta, que os portugueses acabaram por se perder em meio a esse estereótipo de potência, esquecendo-se de que a manutenção é necessária, de que a renovação também era princípio de mercado, e de que o mercado está em constante mudança com aperfeiçoamento de técnicas.
Tantos foram os erros cometidos pela realeza lusitana.Tantos foram os erros cometidos pela humanidade ao longo de alguns milhares de anos de civilização. Desrespeito, soberba, maldade, iniqüidade, tirania nos mantêm numa redoma imutável no espaço e no tempo. Os focos de alteração – gentilezas, fraternidade entre povos, igualdade de direitos- são raros, nascem e crescem em ritmo dolente.Quando olhamos atentamente para a sociedade brasileira hoje, vemos que estamos todos de alguma forma presos pelos pés a uma degradação moral jamais antes vista. Estamos cultivando as bases da mesma escravidão que mesmo depois de abolida manteve suas raízes muito vivas. As conseqüências da corrida pelo lucro foram na esfera social muito mais significativas e duradouras.
Escolheram por nós, cidadãos brasileiros contemporâneos, que sejamos escravos dos preconceitos, das perversidades, das violações. Mas nós escolhemos a cada dia manter bruta indiferença em relação a esses problemas que nos cercam. Será o homem, na sua época, apenas um produtor de barbárie e conflito? Não é essa a perspectiva que desejamos. Talvez esteja na hora de ficarmos aqui, abrirmos os olhos e darmos as mãos, mesmo com a possibilidade de embarcarmos no Cruzeiro Transatlântico ignorando as mazelas do nosso próprio povo. Não há mais tropas de Junot. Há outras, muito bem equipadas e talvez muito mais poderosas. No entanto, Por mais difícil que pareça, sempre há a possibilidade da vitória.

TEXTO ESCRITO PELA ALUNA GEORGIA

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